27 de set. de 2012

SOBRE O ATO DE ESCREVER


SOBRE O ATO DE ESCREVER
Madalena Freire, texto adaptado: “Observação, registro, reflexão. Instrumentos Metodológicos I. Ed Espaço Pedagógico págs. 38 a 50.”


Um trabalho sobre a importância do registro na educação..

SOBRE O ATO DE ESCREVER

(...) Escrever é muito difícil. Compromete mais que falar. Escrever deixa marca, registra pensamento, sonho, desejo de morte e vida. Escrever dá muito trabalho porque organiza e articula o pensamento na busca de conhecer o outro, a si, o mundo. Envolve, exige exercício disciplinado de persistência, resistência, na busca do seu texto verdadeiro, aquele que “o homem escreve com o seu próprio sangue”.

REFLEXÃO E FORMAÇÃO DO EDUCADOR


O ato de refletir é libertador porque instrumentaliza o educador no que ele tem de mais vital: o seu pensar. Educador algum é sujeito de sua prática se não tem apropriado a sua reflexão, o seu pensamento. Não existe ação reflexiva que não leve sempre a constatações, descobertas, reparos, aprofundamento. (...) Na concepção democrática de educação, onde o ato de refletir (apropriação do pensamento) é expressão original de cada sujeito, está implícito que não existe um modelo de reflexão. Cada educador tem sua marca, o seu modo de registrar seu pensamento. O importante é que cada um assuma este seu jeito.


Num primeiro momento a reflexão passa por um período de desintoxicação da visão autoritária que cada um viveu em relação à linguagem escrita. A constatação é :“escrevo sem pensar” , “não consigo escrever e refletir”. É como se pensamento e linguagem escrita caminhassem dissociados. Conquista-se nesse momento, um redimensionamento da linguagem oral e escrita. Esse movimento pode variar de intensidade e duração. Num segundo momento, o importante é que a reflexão seja um instrumento dinamizador entre prática e teoria. O crucial é fazer com que a reflexão nos conduza à ação transformadora, que nos comprometa com nossos desejos, nossas opções, nossa história.

IMPORTÂNCIA E FUNÇÃO DO REGISTRO ESCRITO


Mediados pelo registro deixamos nossa marca no mundo. Há muitos tipos de registros, em linguagens verbais e não verbais. Todos, quando socializados, historificam a existência social do indivíduo. Ainda mediados por nossos registros, tecemos o processo de apropriação de nossa história, a nível individual e coletivo.

A criança tem seu espaço de registro, reflexão, concretização de seu pensamento, no desenho, no jogo e na construção de sua escrita. Esta tarefa formaliza, dá forma, comunica o que pensa, para refletir, rever, revisar, aprofundar, construir o que ainda não conhece: o que necessita aprender.
A escrita materializa, dá concretude ao pensamento, dando condições assim de voltar ao passado, enquanto se está construindo a marca do presente. Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder pensá-lo e apreendê-lo, construindo o conhecimento antes ignorado.


O registro escrito obriga o exercício de ações – operações mentais de classificação, ordenação, análise, obriga a objetivar e sintetizar, trabalhar a construção da estrutura do texto, a construção do pensamento. Somente nesse exercício disciplinado, cotidiano, solitário (mas povoado de interlocutores) do escrever, pode-se evitar, lutar contra a “vagabundagem do pensamento”. A escrita disciplina o pensamento para a construção do conhecimento e do processo de autoria. Uma coisa é ser escrito-reprodutor e reapresenta dor da linguagem escrita. Outra é, no exercício disciplinado do escrever, tornar-se escritor-sujeito-produtor de linguagem escrita.
A reflexão, o registro do pensamento envolve a todos: crianças, professores, educadores.... Cada um no seu espaço diferenciado, pensa, escreve a prática e faz teoria, onde o registro da reflexão, concretização do pensamento, é seu principal instrumento na construção da mudança e apropriação de sua história.


 

 

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